Viola caipira – Wikipédia, a enciclopédia livre
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Viola caipira – Wikipédia, a enciclopédia livre
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A Viola Cabocla
Este trabalho, de autoria do Professor Alceu Maynard de Araújo, foi publicado em artigos,
na Revista Sertaneja de números 4, 5, 6, 7, 8, 9, 13 e 14, de julho de 1958 a maio de de 1959.
Por sua importância para a divulgação deste instrumento tão valioso para a cultura sertaneja, este
artigo está sendo transcrito na íntegra, inclusive as fotos. Estas estão com baixa qualidade devido
a deterioração do papel, devido a idade do mesmo (45 anos). Ao final do trabalho, veja uma
pequena biografia do Prof. Alceu.
Origem da Viola
A viola é
por excelência um instrumento musical do meio rural, sendo muito
disseminada em nosso país, e encontrada nos mais longínqüos rincões do
sertão brasileiro.
Sua origem é remota. No baixo latim
encontramos: vidula, vitula, viella ou fiola, mas nenhum destes
vocábulos serviu para designar a nossa viola. Tratava-se de um violino
pequeno, um tetracórdio. Era a viola de arco, uma espécie de rabeca. Mas
a nossa viola é também bastante idosa, veio de Portugal e ao
aclimatar-se em terras brasileiras sofreu algumas modificações, não só
em sua anatomia como também no número de cordas. É a lei da evolução.
Evoluiu tanto que nós conhecemos no Brasil cinco tipos distintos de
violas de cordas de aço: a paulista, a goiana, a cuiabana, a angrense e a
nordestina. Dos tipos mencionados, estudaremos apenas a paulista e a
angrense pelo fato de serem as mais conhecidas e encontradas com maior
freqüência em nosso Estado.
A viola é o instrumento fundamental do
"modinheiro", é cordofônio, pois suas cordas comunicam sua vibração ao
ar. Serve para acompanhamento de canto e dança. Pode ser tocada só,
executando solos, em dupla, o que é muito comum ou para acompanhamento.
Ao lado da viola, porém com menor freqüência,
encontramos a rabeca, também oriunda de Portugal. Parece que a rabeca
foi no passado a companheira inseparável da viola, sendo atualmente
olvidada, quase que só encontrada no litoral. A rabeca não dispensa a
companhia da viola, pois não costumam fazer solos de rabeca. Completando
a enumeração de cordofônios tradicionais, preciso é mencionar o cocho,
viola rudimentaríssima, hoje completamente esquecida. Dele tivemos
conhecimento ocasionalmente em Tietê, por ocasião de um Cururu rural,
num pouso da Bandeira do Divino Espírito Santo, em outubro de 1947.
A urbanização da viola, isto é, a sua entrada
nos palcos e hoje nos auditórios das estações de rádio e televisão,
devemo-la ao saudoso folclorista paulista Cornélio Pires, que em
1910 organizou um programa de violas no palco da cidade de Tietê e pouco
mais tarde, num festival em São Paulo, no então Mackenzie College.
O violão, que na urbanização da viola está ao
seu lado, goza atualmente na cidade tão larga difusão que podemos dizer
que é o instrumento do meio urbano. O violão já foi largamente
desacreditado. Tocador de violão era sinônimo de vagabundo. Graças ao
velho Catulo da Paixão Cearense, o violão hoje anda nas mãos das
"granfininhas". E que realeza tem um violão enfeitado pela Inezita
Barroso! Bem, voltemos à nossa viola.
Quando os portugueses aqui chegaram, ao lado
do desejo de trabalhar na dura lide de povoar e colonizar as terras
cabralinas, trouxeram também algo que encheria os momentos de lazer. As
danças e os cantos camponeses, a viola, a rabeca, o adufe, o triângulo, a
tarola, o culto a São Gonçalo, as Folias de Reis e do Divino Espírito
Santo e os votos de comer e beber na Igreja, estes já codicilados e
condenados nas Ordenações Filipinas. Na terra além-mar eles iriam viver
e, as danças, cantos, cerimônias religiosas contribuíram para anular a
nostalgia.
A viola de arame, de Braga (Portugal) ou viola
braguesa, ao chegar ao Brasil parece não ter evoluído muito, ao ponto
de vista social, como aconteceu com sua irmã rabeca, que tomando ares
civilizados, com roupagem mais sólida, tornou-se o aristocrático violino
que subiu para os coros das igrejas católicas, deixando cá fora, nas
soleiras das portas das choupanas, aquela que é mais rica em número de
cordas, porém pobre nos atavios, feita até hoje de tábuas de caixão.
Não possuímos um regular acervo de elementos
para comparar a antiga viola braguesa com a atual viola caipira. No
presente trabalho não temos em mira apresentar os resultados de uma
pesquisa histórica desse instrumento, como nos sugeriu Mário de Andrade,
em 1943, mas deixamo-lo em andamento. Estamos ainda colhendo
documentação. Apenas queremos afirmar que si fora instrumento popular
entre os campônios portugueses, qual a guitarra, aqui é também popular
entre os caipiras e caiçaras.
Viola artesanal sendo
feita em Tatuí, São Paulo. |
A viola veio da cultura ibérica, onde parece ter surgido por influência dos mouros. Gustavo Pinheiro Machado
(progenitor da aviadora Grésia Pinheiro Machado) era um virtuose da
viola e afirmava em uma moda de sua autoria que "a viola tinha pais
portugueses, o violão tinha pais espanhóis, ambos eram netos de mouros e
bisnetos de hebreus".
Não há dúvida que tenha sido introduzida pelos portugueses. Gabriel Soares de Souza, a ela se refere. Joaquim Ribeiro,
no seu precioso "Folclore dos Bandeirantes" fala sobre a moda... e não
há moda sem viola. Nos mais antigos documentos que temos manuseado, nos
inventários do Arquivo do Estado, sobre a viola há apenas referência
determinada e jamais qualificativa. O mesmo se dá com a "rabeca com seu
arco de crina do dito instrumento de folia". Cremos entretanto que a
vida nômade dos sertanistas e bandeirantes não impedia o uso da viola.
Trago para estas páginas o testemunho insuspeito de meu avô materno, Virgílio Maynard,
tropeiro, que dos 12 aos 60 anos anos de idade, isto é, desde 1870
palmilhou as ínvias estradas do Rio Grande do Sul a São Paulo. Contava
que nunca vira seus peões e camaradas viajarem sem sua viola, quase
sempre conduzida dentro de um saco, amarrada à garupa de seu animal
vaqueano. Não havia pouso que após o trabalho azafamado do dia, não
tocassem antes de dormir o sono reparador. Quando a zona era infestada
por animais ferozes e havia necessidade de dormir com o fogo aceso noite
a dentro, o violeiro, no interregno de lançar achas ao braseiro,
plangia sua viola dolentemente.
As violas mais antigas que temos tido
conhecimento são feitas à mão por algum "curioso". É recente sua
industrialização. As violas feitas em série e vendidas a baixo custo são
inferiores em som às feitas à mão. Tiveram porém, o privilégio de
desbancar aquelas, sendo hoje raríssimo encontrar "fazedores de viola".
Embora o violeiro dê preferência à feita à mão, economicamente se vê
obrigado a comprar a industrializada. E digno de nota, estas são
vendidas nas "Mecas" do catolicismo romano em nosso Estado. Assim
podemos ver em Pirapora do Bom Jesus, Aparecida do Norte, Bom Jesus de
Iguape e Bom Jesus dos Perdões, onde os romeiros, na sua maioria gente
da roça, aproveitam para cumprir suas promessas e fazer sua "comprinha".
Nessa Mecas, ao lado das belíssimas manifestações de fé ou histeria
coletiva, da sinceridade, da promiscuidade que a falta de acomodações
facilita, da jogatina "inocente", há manifestações riquíssimas do
folclore: o linguajar característico, danças com indumentária garrida,
trajes e costumes diferentes, oferecida de ex-votos que em geral são
peças esculturadas ou pintadas, enfim se põe em contato com um mundo de
coisas que bem merecem um estudo acurado de um sociólogo. Nos quatro
lugares acima mencionados, pudemos em 1946,1947 e 1948, constatar a
venda de violas industrializadas e as raras feitas à mão e ao mesmo
tempo confirmar a diferença que havíamos notado entre a viola de
beira-mar e a de serra-acima.
A linha divisória seria tomada pela Serra do
Mar, pois este elemento geográfico também delimita em parte os costumes,
nos dando marcantes diferenças entre o caiçara do litoral e caipiras do
interior. Comprovamos o fato da influência geográfica nos usos e
costumes com o fato de em Xiririca, Jacupiranga, Miracatu, Sete Barras,
Registro e mesmo Iporanga, serem bem distantes do litoral, mas muitos de
seus usos e costumes serem idênticos aos de Cananéia e Iguape. Há
grande identidade na linguagem, nas danças como o Fandango, Congadas,
Folias de Reis e também no uso da viola ao lado da rabeca. Até nos
implementos das danças, como seja o tamanco para o fandango rufado, os
feitos no litoral são idênticos, até na escolha da madeira e fixação da
contra-alça, aos das cidades marginais do Rio Ribeira.
É claro que os acidentes geográficos, os meios
de comunicação influenciem os usos e costumes. A facilidade de compra
de um instrumento contribui para que se generalize a sua adoção. Assim é
que, antigamente, os moradores de Cunha, que levavam dois dias para ir
até Guaratinguetá ou Aparecida, e apenas um para ir até Parati, no
litoral fluminense, adotaram a viola do tipo angrense ou do litoral. É
largamente disseminado como o é no litoral o uso da rabeca, até mesmo na
dança de Moçambique. Com o estabelecimento da estrada de rodagem, a
ligação diária por meio de ônibus entre Cunha e Guaratinguetá até os
moradores de Taboão, encostados na Serra do Mar, preferem hoje adquirir
suas violas em Aparecida do Norte. Aliás, fenômeno idêntico podemos
constatar em São Miguel Arcanjo, no sul do Estado. Devido ao fato de
descerem anualmente, por ocasião das romarias de 6 de agosto ao
santuário de São Bom Jesus de Iguape, para o cumprimento de promessas,
encontramos alguns traços da cultura material litorânea entre os
caboclos dessa zona. Zona que no passado esteve circunjacente às
estradas de tropeiros. Mas anotamos a presença de panelas de barro do
Peropava, bairro de Iguape, e até a viola do tipo do litoral, feita em
Guaxixi, bairro de Cananéia, vendida em Iguape.
Tipos de Viola
Dos tipos de violas conhecidos estudaremos os dois encontrados com maior freqüência em nosso Estado: a viola paulista e a angrense ou do litoral.
Nossa pesquisa cingiu-se apenas ao Estado de São Paulo. Quanto ao
litoral paulista, tivemos a preocupação de estudar a zona litorânea mui
ligada ao nosso. Assim sendo, Angra dos Reis e Parati (Estado do Rio de
Janeiro) foram visitados e observados por causa de suas constantes
ligações com Ubatuba e no sul até Paranaguá (Estado do Paraná) pelas
suas relações com Cananéia e romeiros que vêm anualmente até Iguape.
Dos outros dois tipos nos referimos a eles
pelo fato de termos conhecido em mãos de migrantes de Estados de Goiás
(um baiano que lá morou) e de um boiadeiro matogrossense, que nos
facilitou um exame detido em sua viola cuiabana. Tipo idêntico ficamos
conhecendo no Museu Paulista que seu diretor, Dr. Sérgio Buarque de Holanda, há pouco trouxe de Cuiabá. Sua caixa sonora é escavada na madeira, e a tampa de trás é colada com cola vegetal.
Em nosso estudo chamaremos de viola paulista
àquela encontrada no interior de nosso Estado nos sítios e fazendas
estudados e viola Angrense, ou melhor, do litoral, àquela encontrada no
litoral paulista e cidades do vale do Ribeira. Será melhor chamarmos de
viola do litoral, porque em novembro de 1947, estivemos em Angra dos
Reis e constatamos que com o falecimento de antigo fabricante das
afamadas violas angrenses, não há mais quem as fabrique naquela cidade
sul-fluminense. Ficou no entanto, o tipo. E no sul do Estado, em
Cananéia, no bairro de Guaxixi, encontramos um fabricante, cujas violas
são absolutamente do tipo angrense, já nosso conhecido. Os dois tipos de
viola: paulista e do litoral, que pertenciam à nossa coleção de
instrumentos de música, hoje figuram na Seção de Folclore recentemente
organizada no Museu Paulista pelo etnólogo Prof. Herbert Baldus.
Vamos tentar descrever os dois tipos de viola,
onde ressaltaremos as diferenças marcantes, como seja: construção,
dimensões, número de cordas e material utilizado para as cordas.
Tipos de bocas de violas paulistas, feitas à mão em Tatuí, SP.
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A viola é um instrumento cordofônio, em que as
cordas comunicam sua vibração ao ar. É feita de madeira, compõe-se de
uma caixa sonora e uma haste que é popularmente chamada de braço.
Chamaremos de viola Paulista àquela cuja
espessura de caixa de ressonância não excede de 7 centímetros, usa dez
cordas, ou melhor, cinco cordas duplas, elementos característicos
encontrados nos municípios estudados.
Os informe sobre a construção da viola, nome das peças, madeiras empregadas e afinações foram dados pelo Sr. Zico Brasiliano Brandão.
O informante é caboclo, natural de Tatuí. tem 37 anos de idade e a sua
profissão é fabricante de viola e consertador de máquinas de costura.
Dentre os 818 violeiros entrevistados com suas violas, desde 1935 até a
presente data, este fabricante de violas é o que maior número de
afinações conhece, sendo um ótimo violeiro. Seu pai foi fabricante de
violas e um dos mais afamados violeiros e
cururueiros do sul do Estado. Contou-nos seu filho que ele conhecia
cerca de 25 afinações. Seu filho não apenas herdou "a veia artística",
mas também é o seu continuador na fabricação do instrumento. Sua
fabriqueta nada mais tem do que uma banca de carpinteiro, as formas para
colar os aros e as ferramentas, destacando-se um bom canivete. Fabrica
violas de encomenda, conserta instrumentos de corda, e quando tem um bom
número de violas prontas, faz viagens para Apiaí, ltararé, Estrada
Mayrink-Santos, Botucatu, Avaré, Itapetininga, vendendo os seus
instrumentos. Afirma ser bem recebido em todas os lugares onde vai,
nunca tendo despesas porque as pessoas do sítio fazem questão de
hospedá-lo a fim de que os alegre com suas musicas.
Nas suas viagens, Zico sempre leva sua viola
de 14 cordas, cuja caixa de ressonância é feita com a carcaça de tatu, o
que provoca admiração dos caboclos. Volta depois de ter vendido todos
os seus instrumentos. No Estado do Paraná, são muito conhecidas as
afamadas violas de Tatuí.
Zico Brandão, o "Rei da Viola" de Tatuí.
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As grandes fábricas de instrumentos da Capital
Bandeirante também fabricam violas, havendo o tipo "standard", bem
acabadas e bonitas, estreitas, mas não gozam da preferência de nosso
caboclo. A industrializada, "standard" é pequena, caixa estreita. A que
serve para as exibições nos palcos e rádio, são do tamanho de violões,
sendo que a disposição dos trastos é diferente, geralmente estas violas
são de cedro ou jacarandá da Bahia.
A viola paulista tem tamanhos diferentes,
porém, guardando sempre uma espessura pequena de caixa, em contraste com
a do litoral que tem uma caixa muito larga, igual a largura do violão.
Zico Brasiliano Brandão, mostrou-nos as formas dizendo serem 8 tamanhos
distintos.
O fabricante de violas de Santa Isabel, sr. Lourenço Marques, disse-nos só fazer 3 tipos: pequeno, médio e grande, embora saiba que há intermediários entre esses tamanhos.
Em Piracicaba existiam alguns fabricantes de violas. Nessa "Capital do Cururu" o tipo de viola preferido foi o "mochinho". Juca Violeiro fabricou muitas violas Os melhores "môchos" que conhecemos são de sua lavra. José Barbosa,
"modinheiro" dos melhores, é um fabricante de violas. Recentemente
inventou fazer a caixa sonora de suas violas de latão. No "Centro de
Folclore de Piracicaba" tivemos oportunidade de examinar um exemplar.
Afina muito bem, porém, o som é metálico. Alguns cururueiros afirmaram
que é muito alta sua afinação, o que os dificulta e cansa cantar a noite
toda com tal instrumento.
O tamanho número um, conhecido por Machete ou Machetinho,
é o menor, 4 cordas e geralmente usado pelas crianças. Afirma o sr.
Zico que antigamente fazia muitos "machetinhos", hoje, porém, depois que
apareceu o cavaquinho industrializado, não há mais encomendas.
Compramos para nossa coleção um machetinho no mercado municipal de Paraibuna. O sr. Juvêncio de Sales
fabrica, usando canivete, barbante para enformar e cola vegetal. Os
furos para cravelha são feitos a fogo. A madeira usada é a "criuvinha".
A viola de tamanho número dois, pouco maior do
que o "machetinho", também não tem saída, somente quando uma moça quer
ser violeira é que encomenda.
Um duo genuinamente roceiro
(Sertanejo e Sertaneja)
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As de número 3 e 4 raríssimamente feitos em Tatuí são os "Mochinhos".
São muito procuradas em Piracicaba pelos seus cururueiros. Alguns
exemplares desses mochinhos figuram na rica coleção de violas do "Centro
de Folclore de Piracicaba", por iniciativa de seu secretário executivo,
Prof. João Chiarini.
A de número cinco ou média é a mais procurada,
portanto, são as mais comuns, assim afirmou o sr. Zico Brandão, de
Tatui e o mesmo disse o sr. Lourenço Marques, de Santa Isabel.
A viola de tamanho número 6 é bastante
procurada pelos violeiros pretos. Afirma sr. Zico Brandão: quando vejo
um preto me procurar para "apissui" uma viola, já nem mostro as pequenas, já sei e logo vou dando deste tamanho".
As de número 7, geralmente, são para 12
cordas. O entrevistado afirmou: só baiano é que gosta delas". Para os
nossos caboclos, qualquer nortista que fale arrastado do "x" é baiano.
A de número 8 é a maior de todas, tendo um metro de comprimento.
Sendo a viola média, de número 5 a mais comum,
vamos dar as suas dimensões: 75 centímetros de comprimento. Caixa de
ressonância, 35 centímetros, braço 20 centímetros e palheta 20
centímetros. A altura da caixa de ressonância, 5,5 centímetros próximo
ao braço e 6,5 noutra extremidade. Boca, 5,5 centímetros de diâmetro.
ANATOMIA DA VIOLA
A viola compõe-se das seguintes partes: caixa de ressonância, boca, braço e palheta.
CAIXA DE RESSONÂNCIA
A caixa de ressonância é conhecida pelas seguintes designações: caixa, bojo, ou corpo.
A caixa é composta de um aro e duas tampas. O
aro pode ser inteiriço, ou em dois pedaços, sendo coladas as suas
extremidades quando na forma, ficando a emenda embutida no taco de
segurança do cavalete. Usam cola vegetal de sumbaré. O aro é que tem as
curvas. Para execução dessas curvas, uns fabricantes usam formas, outros
fazem a "olho" Aliás o "olhômetro" é o grande aparelho de precisão com
patente nacional brasileira.
Na tampa da frente, ou "peito da viola", ficam
o cavalete e a boca, isto é, uma abertura, que põe em comunicação a
caixa de ressonância com o exterior. Paralelamente ao cavalete fica o
rastilho, peça não fixa de taquara. A tampa posterior ou "costa" é
inteiriça, uma tábua só sem emenda.
Na construção da caixa de ressonância entram
as seguintes peças: 3 travessas para sustento da tampa posterior, 2
travessas para sustento da tampa anterior, taco de segurança do
cavalete, armação para o braço (ficando para o lado de fora o gastalho).
O aro, onde internamente são grudadas as viras de filete, para
resistência, ou contra-fortes, onde serão coladas as tampas.
Empregam-se as seguintes madeiras no aro:
guaiuvira (preferivelmente), jacarandá, canela saçafrás. A espessura do
aro é de 2 mm. Nunca é mais grosso porque a madeira tem que entrar na
forma fazendo as curvas, quanto mais fina, mais flexível. As tampas são
feitas preferivelmente de pinho, porque dá maior sonoridade. O tampa das
costas às vezes pode ser feita de cedro ou canela, mas a da frente
sempre é de pinho. Devem ser madeiras bem secas. Dizem que a madeira
deve ser cortada na lua minguante de mês que não tem "r" para durar
mais, ser flexível e também não carunchar. As tampas que são de 2 a 3 mm
de espessura, geralmente feitas de tábua de caixão de pinho. O
fabricante entrevistado costuma comprar caixões, desmancha-os e guarda
as tábuas num lugar seco durante 2 ou mais anos, "pra ficá cum mais
alma", isto é, melhor som. Primeiramente, antes da guerra, o Sr. Zico
Brandão, famoso fabricante, adquiria caixões de pinho de Riga, que davam
as melhores violas que até hoje fabricou.
A largura do bojo é de 25 centímetros, onde se
cola o cavalete, e a menor é de 18 centímetros, na parte inferior
deste, no centro da cintura que dá um pequeno estrangulamento fica a
abertura, a boca.
A caixa de ressonância às vezes é invernizada.
No pequeno tamanho da caixa de ressonância da viola paulista, em
contraste com o grande tamanho da caixa da viola do litoral, é que
reside boa parte da diferença entre estes dois tipos de viola.
BOCA
A abertura que
põe em comunicação a caixa de ressonância com o exterior é a "boca". A
boca da viola pode ter diversas formas, sendo a mais comum em forma de
coração para as feitas à mão, e circulares, as estandardizadas pela
máquina.
Outros tipos de "boca" encontradas entre as violas feitas à mão: dois corações, estrelas, coração e raramente o losangular.
Ao redor da "boca" é costume fazer alguns
desenhos ou encastoar malacacheta. Os desenhas são pirogravados. No
litoral encastoam pedaços de conchas, e no serra-acima, malacacheta.
Os desenhos, "enfeito" como dizem, em geral
são pirogravados, mas também temos encontrado feitos a lápis, tinta de
escrever, e em Piracicaba, uma riquíssima viola com uns desenhos a óleo e
o apelido daquela cidade, "Noiva da Colina".
Há violeiros que mandam escrever seus nomes ou
apenas iniciais. Outros, algumas frases, nome de mulher. Zico Brandão
pirogravou em sua viola: "Os reis da viola", ao lado do desenho de um
"pinheiro". Flores estilizadas, em geral é o "enfeito" mais encontrado.
BRAÇO e PALHETA
A haste ou
"braço" compõe-se de duas partes distintas: braço e palheta. Muitos
violeiros chamam aos dois tão somente de braço. Aliás, na viola há
muitos nomes das partes do corpo humano usados para denominações e isso
revela que o nossa caipira empresta ao instrumento predileto um pouco da
anatomia humana: boca, "cacunda" ou costa, braço, pestana, cintura,
ilharga, cabeça da tarraxa e o mais importante é que a viola tem alma. E
o inverso também serve para comparação: moça bonita de corpo bem
proporcionado é "corpo de viola", e. . . com as nádegas um pouco
avantajadas é "corpo de violão", ou "cintura de violão".
Mas, voltemos ao braço da viola. Nele estão os
trastos ou pontos, divisões de metal. Na parte superior do braço está a
palheta e como já apontamos ela é enfeitada, lisa ou "trabalhada".
Na palheta estão os artifícios onde se ajustam
as cravelhas para a afinação. Cravelha vem do latim, clave, que deu
chave, "clavelha", chave pequena e ficou cravelha. Nela distinguimos
três partes distintas: orelha ou chapinha, corpo e pique ou furo onde a
corda é enroscada ou enfiada.
Quando nos referimos ao número de cordas,
convém lembrar que há uma diferença entre as violas do litoral (tipo
angrense) e nas quais os caiçaras usam apenas 7 cordas. Nestas violas
(Cananéia, Iguape, etc.), é comum encontrar-se uma outra corda que não
atinge o braço todo e a cravelha não se aloja na palheta; há, grudado
por fora do gastalho um pequeno dispositivo onde está a pequena
cravelha. A este conjunto chamam de "piriquito" ou benjamim (ver figura
abaixo). Nas violas do litoral há portanto uma pequena corda (a oitava),
chamada cantadeira, fica acima do contra-canotilho e afinada em
uníssono com o contra-bordão ou melhor, contra- canotilho. No
serra-acima paulista, principalmente nas zonas antigas onde não há
influência nordestina ou outras, o que se dá realmente nas zonas
pioneiras, novas, os caipiras usam encordoar as suas violas com uma
dezena de cordas. Dizem que a viola tem dez cordas, porque dez são dedos
da mão. No entanto já vimos violas com 12 cordas e até 14 como aquela
célebre feita por Zico Brandão de Tatui - "o rei da viola", cuja caixa
de ressonância era feita de casca de um tatú-etê. Viola que merecia
figurar num museu.
Sobre as partes da viola, antes que falemos
das cordas, da sua ordem e "tempero"', isto é afinações, transcrevemos
uns trechos de uma toada cantada por Amaro de Oliveira Monteiro, poeta violeiro de São Luís do Paraitinga, recolhidos no dia 19 de setembro de 1948:
I
"Viola, minha viola,
vamo no campo chorá,
você sabe e não me conta
onde meu amor está".
II
"Chora viola sentida
nos peito de quem padece
sê minha viola sabe
quem meu coração não esquece".
III
"Minha viola é testemunha
do que eu tenho passado,
muita mágua dolorida
ela tem me consolado".
IV
"A viola é bençoada
por a folia acumpanhá,
inté no braço de santo,
a viola já foi pará".
V
"No braço de São Gonçalo
a viola já tocô
por ela sê abençoada
nos braço dele ficô".
VI
"Toda viola é interiça
é feito de doze pedaço,
as cravêia e os ponto
e as corda são de aço".
|
VII
"Este pinho tem cacunda
tamém é feito com cola,
e pode somá a conta
que intera doze co'a viola".
VIII
"A viola tem banda e braço
aonde toco meus pontiadão,
seguro ela pelas iarga
e faço chorá dois coração".
IX
"Viola, minha viola,
cavalete de canela,
no tampo e o buraco
que afirma os tempero dela"..
X
"Viola, minha viola,
rastilho de coquero,
eu faço as pedra rolá
quano pego neste pinhero".
XI
"Viola, minha viola,
foi feito de jacarandá,
quem tocá esta viola
vai no céu e torna voltá"
XII
"Esta moda vai de lembrança
como prova de amizade,
pra quano tocá viola
pra de nois tê saudade".
|
CORDAS, ORDEM E "TEMPÊRO"
Em geral as cordas
são de metal, mas já houve tempo em que se fazia corda das tripas de
mico, macaco, coati e até ouriço. E houve muitas violas cujas primas,
segundas e terceiras e contra-canotilho eram de origem animal. Antigos
violeiros de Tietê afirmaram ser excelentes. Ouvimos também no litoral
tal afirmação. Antigos violeiros inquiridos nessa região, contaram-nos
que eram muito mais duráveis, pois as metálicas, devido ao ar marinho,
enferrujam facilmente. Hoje os cordas são de seda e até de nylon.
Quanto a ordem das cordas da viola,
indicaremos o de uma encordoada por violeiro destro e não canhoto,
conforme clichê publicado em número anterior. Por exemplo, numa viola
piracicabana, um mochinho de Borbosão do Centro de Folclore de
Piracicaba, certa feita anotamos o material das cordas: canotilho de
seda e a companheira do conotilho era de metal amarelo nº 10; toeira (ou
tuêra) era de aço, coberta e a companheira era de metal branco nº 9; a
contra-turina e turina eram brancas (isto é, aço) de nº 9; a
contra-requinta, branca n.0 9 e a requinta, amarela n.0 10, e finalmente, contra-prima e prima eram de aço, branca n.0 10.
Alguns caipiras guardam ainda o termo
folclórico para designar as cordas de aço nº 9 e 10, chamam-nas de
verdegais, o que nos fazem lembrar o nome das cordas da guitarra
portuguesa. Aliás, a origem dos nomes das cordas nos dizem que o
vocábulo conotilho vem do italiano "canatiglia". Toeira vem de toar,
isto é, dar som forte, soar. E' o mesmo nome usado na guitarra, são as
imediatas aos bordões. A toeira é a corda que tem som forte. A requinta é
além de uma espécie de clarinete de som agudo, a denominação de viola
ou guitarra, pequenas, muita menores do que essas comuns nossas
conhecidas, assim do tamanho do mochinho piracicabano. João Chierini
pode orgulhar-se de ter uma das mais completas coleções de "requintas"
no Centro de Folclore Piracicabano. E a turina, donde virá? De Turim?
Não. Analogicamente sua origem deve vir de turi, espécie de clarim usado
na Índia durante o cerimonial da cremação. E dizem os violeiros que os
turinas são as cordas mais chorosas da viola!
Tomam cuidados especiais para que a viola,
quando guardada não fique com as cordas encostadas à parede porque ela
"constipa", isto é, se resfria. A umidade enrouquece a corda.
Duas causas fazem a viola sofrer: calor ou
frio intensos. No entanto, ela é muita mais sensível ao mau olhado e a
inveja que destemperam a viola, e jamais pegará afinação. Para evitar,
usam dentro da caixa de ressonância, um pequeno galho de arruda, lasca
de guiné, dente de alho. E para dar eletricidade às cordas, maior
sonoridade, só o guizo de cascavel. É, e não resta dúvida, magia
simpática. E violeiro que se preza não se esquece de colocar um guizo de
cascavel em sua viola.
Tempero é a afinação. Esta varia muito.
Dizem alguns caipiras paulistas que há vinte e cinco afinações
diferentes. Mas o número 25 para eles significa imensidade, o
incontável, multidão. Conhecemos as seguintes afinações para violas da
serra-acima paulista:cebolão, cebolinha, ré-abaixo, castelhana,
quatro-pontos, oitavado, tempero-mineiro, tempero-pro-meio, guariano,
guaianinho, guaianão, temperão, som-de-guitarra, cana-verde, do sossego,
pontiado-do-Paraná.
A preferência pelas afinações varia muito.
Para cantar moda, a melhor afinação é o quatro-pontos e para cururu é
afinação cana-verde. Cebolinha é boa também para moda. Cebolão é muito
usada para dança do cateretê. Os violeiros mais jovens, e muitos dos que
hoje militam nos rádios não conhecem tais afinações, suas violas são
afinados como violão. Para moda de viola, na região do médio Tietê, os
violeiros usam estas afinações: cebolão, quatro-dedos, castelhana ou
três-pontos-da-viola e ré-abaixo. No cururu, nesta mesma região, notamos
a preferência pelas cebolão e ré-abaixo, principalmente nos pousos do
Divino nas imediações da cidade de Tietê.
Em Taubaté, a afinação usada para dançar o cateretê é: fá sustenido, si, mi sustenido, sol sustenido, dó sustenido.
O cebolão, também boa afinação para sapateado
é: ré, sol, si, ré, sol. A cebolinha (simples), boa afinação para cantar
moda, e, pestaneando no segundo trasto é ótima afinação para sapateado
é: mi, si, mi, sol sustenido e si. A cebolinha (três cordas), ou
ré-acima ou cebolinha-pelo-meio, muito usada para execução de solos
musicais é: ré, sol, ré, fá sustenido e lá. A cana-verde ou cururu: ré,
sol, si, mi, lá. O oitavo ou pontiado-do-Paraná ou guitarra, outros
nomes de tal afinação é ótima para fandango e muito usada para pontear
uma moda: ré, sol, dó, fá, lá sustenido. Do sossego, também chamada
castelhana porque é mais comum usar somente ao tocar, as três primeiras
cordas: ré, fá sustenido, lá, dó sustenido, fá. A Quatro-pontos,
generalizada nas rádios é como a afinação do violão: lá, ré, sol, si,
mi.
Luís da Câmara Cascudo - o papa do
folclore brasileiro - assinala outras afinações em "Vaqueiros e
Contadores", isto lá no nordeste: mi, si, sol, ré, lá e si, fá, ré, lá,
mi.
Oportunamente daremos as afinações bem como as respectivas primeira, segunda e terceira posições.
EMPUNHADURA OU POSIÇÃO
Duas são os
maneiras ou posições de segurar a viola: a posição profana e a sagrada.
Naquela, o viola fica apoiada no ventre ou mesmo repousa sobre a perna
(coxa) do tocador quando sentado. Na posição sagrada, é tocada tão
somente em pé, ficando a viola apoiada no colo, senda que o queixo
(mento) do violeiro repousa sobre o instrumento. Em geral, quando na
posição religiosa, o violeiro fecha os olhos ao dedilhar a viola.
Estas denominações de profana e religiosa que
propusemos para as duas posições características de segurar a viola,
valem apenas para a região paulista, para a paulistânia. Em nossas
andanças pelos 4 ventos do Brasil, em 1951, 1952, 1953, quando estivemos
no centro, norte e nordeste, tivemos oportunidade de verificar que a
viola é empunhada diferentemente da maneira de nossos caipiras e
caiçaras bandeirantes.
O geral, o comum é segurar o braço da viola
com a mão esquerda e com a direita dedilhar as cordas. Das várias
maneiras de planger as cordas da viola ou "pinicar" como genericamente
se referem a esta ação, podemos destacar a mais delicada, maneirosa e
suave delas, que é o ponteio, "jeito choroso" para acompanhar as modas
de "causos" e "assucedidos" que provocam enternecimento e até lágrimas,
bem como o riscado para acompanhar as músicas de cunho religioso como
sejam as de folia do Divino ou de Reis, dança de São Gonçalo. Há as
maneiras vigorosas usadas em geral para danças: batidas e rasqueado e o
maião (malhão, vem de malhar, bater), toque característico do cururu.
Hoje, por causa do descobrimento das maneiras
de dedilhar a viola, tais denominações tornaram-se gêneros: rasqueado,
batido, ponteio, maião. E tais males são recente, oriundos da
improvisação de nossos locutores que, por ignorância ou avidez de
apresentar novidades, generalizam tudo.
AS DOENÇAS DA VIOLA
Basta haver amor por
determinada cousa, para que o homem lhe empreste imediatamente certos
atributos humanos. A viola, instrumento que maior número de amantes tem
tido entre o povo do meio rural brasileiro, por isso mesmo padece das
muitas doenças que atormentam o ser humano. A viola se resfria, se
"constipa", apanha "quebranto", fica rouca ou fanhosa, se "destempera" e
chega até a ficar reumática.
As doenças da viola seriam provenientes desse
antropomorfismo que lhe é atribuído pois tem braço, costas, boca,
ilharga, orelhas (cravelhas), "cacunda", pestana, etc., ou da afeição
que identifica instrumento e tocador?
De médico, poeta e louco todo mundo tem um
pouco e o violeiro cuida da saúde de sua viola: contra quebranto,
galhinho de arruda no seu interior, jogado boca a dentro em noite de 6a.
feira, na primeira após a compra do instrumento; há um processo de
magia simpática para dar melhor "voz" às cordas, colocando um guizo de
cascavel. E contra todos os fluidos prejudiciais, nada melhor do que uma
fita vermelha para desviar o mau olhado e a inveja. E bom violeiro é
sempre invejado! Tocar viola é uma cousa tão almejada que chegam a fazer
pacto com o diabo na 6a. feira santa, conforme assinalamos em nosso
livro "Alguns Ritos Mágicos".
Quer ver violeiro contrariado, é um estranho
tocar em sua viola ou pedir licença para "arranhar as cordas". Lá com
seus botões o violeiro fica mandando ele arranhar... Bem, não diz nada,
mas pensa. A mão de estranho "destempera" porque transmite eflúvios
maléficos ao seu instrumento. . . é pior do que se "botasse mau olhado".
Além da fita, e esta não deve ser confundida
com aquelas de promessa que os violeiros das folias de Divino carregam
como ex-votos, raro é o violeiro que não tenha escondido um amuleto
sanitário: uma figa, um signo de Salomão, intrometido na palheta.
Há violas que se "constipam", isto é, que se
resfriam só pelo fato de serem guardadas com as cordas encostadas á
parede que lhe transmite umidade. Violeiro que se preza não a dependura
assim e sim a mete num saco para guardar num gancho ou prego. À noite
estando sozinha, sente frio, porque nas braços do violeiro, ela sente
calor. Mas, há violas que precisam tomar sereno para ficar com boa voz,
para "declarar bem". Outras, com o sol se arruinam e chegam a se
"destripar", descolam o tampo dos aros: é a insolação.
Antes de guardar a viola, deve-se passar um
pano sobre as cordas, num sentido só, "para não lhe tirar o sentido",
endoidecê-la: do trasto para a palheta, assim ela não ficará fanhosa.
Até o enfeite das violas é amuleto sanitário: a
pintura de flores em sua tampa ajuda a afastar o quebranto. E as flores
escolhidas são aquelas onde predomina o vermelho, por exemplo, as
flores da maravilha (mirabilis jalapa, Lin.) com as quais as crianças
ainda hoje fazem colares e antigamente os violeiros, principalmente os
negros, colocavam-nas na pescoço nas romarias de São Gonçalo ou nos
pousos de cururu. E' por isso que Antonio Adão (Antônio Rodrigues de Lara)
- o poeta das flores, pretalhão de dois metros de altura, tem uma viola
cheia de fitas e flores de maravilha pintadas, como assinalou o
folclorista João Chiarini. E' a constância de certos traços culturais
que permanecem. E' uma forma medicinal de evitar as doenças de sua viola
que foi feita pelo saudoso piracicabano Juca Violeiro (José Antônio Maria),
mulato quase centenário que ali no Bairro Alto, à rua Morais Barros, na
minha cidade natal (Piracicaba) fazia violas, verdadeiros Stradivarius
caipiras - mochinhos e violas - guardados alguns exemplares nesse
fabuloso museu do "Centro de Folclore de Piracicaba".
Não há viola lunática, mas todas sofrem
influência da lua. Na lua nova e "na força da lua" não se guarda viola
afinada, ela pode ficar "corcunda", entortar, "estuporar", bem como
rebentar a corda. Madeira para viola deve ser cortada nos meses que não
tem "r" (maio, junho julho, agosto) e na minguante para nunca apanhar
caruncho, Viola com caruncho é leprosa...
Violeiro que se preza não carrega viola
debaixo do braço e sim na mão, segurando-a pelo seu braço. "Viola é
mulher, e quem sai com ela na rua, vai de braço dado. Violeirinho de
meia pataca é que põe a viola debaixo do braço. O sovaco é lugar de
encostar a muleta e não a viola". Viola carregada debaixo do braço fica
reumática, não afina mais, fica mancando das cordas.
Embora o viola tenha lá suas doenças, é
inegável o poder que ela possui para curar as doenças quando tocada em
romarias para São Gonçalo do Amarante. A viola nas danças do santo
português - padroeira dos violeiros, além de arrumar casamento para as
moças que vão ficando para "tias", cura também reumatismo. Quem num
cateretê "pisar nas cordas da viola", isto é seguir-lhe o ritmo, sem
errar, jamais ficará doente dos pés, das pernas, nunca terá "veia
quebrada" - varizes. E' portanto um preventivo maravilhoso que só os
catireiros têm o privilégio de possuir.
Se por um lado há doenças da viola, por outro
ela tem grande função medicinal. Ela cura as doenças, mata a saudade,
elimina a tristeza, realiza a psicoterapia profunda melo-medicinal.
Acontece que a função medicinal da música é cousa velhíssima O grande
salmista Davi, conforme registra a Bíblia, tocava a sua harpa para
alegrar o hipocondríaco Saul para curá-lo da misantropia que o assaltava
de vez em sempre.
Repete-se com o instrumento predileto do nosso
caipira - a viola - o mesmo destino medicinal da harpa - ela cura as
doenças dos homens tristes. Quem resiste à alegria contagiante de um
cateretê riscado nas cordas de uma viola? Qual é o reumático que não
entra e desenferruja os ossos sob o ritmo desencarangador de uma dança
de São Gonçalo? Qual é o "descadeirado" que não participa da um fandango
valsado ou toma o "suadouro" de um "recortado" de fim de pagodeira
quando os violeiros já entrevem "barra do dia" dealbando no horizonte e a
função vai se smorzando?
A lei da compensação ai está: o bom violeiro
cuida de sua viola para que ela não apanhe doenças, seja sempre sã, e
ela recompensa, uma boa viola, bem tocada dá alegria para o homem e já
dizia Salomão nos seus Provérbios: "O coração alegre aformoseia o rosto,
mas pela dor do coração, o espirito se abate".
E' por isso que "violeiro morre é de velho"
AFINAÇÕES DA VIOLA
Em geral as afinações da
viola são conhecidas por nomes regionais, populares assim: cebolinha,
cebolão, do sossego, etc... Por exemplo, afinação em Mi é a Cebolão. E
como muitos violeiros só conhecem uma afinação, afirmam que na viola não
há "tom menor", dando só a posição "maior".
Ilustramos com clichês algumas afinações com seus respectivos nomes populares, regionais paulistas. Comecemos com o Cebolão, uma das mais comuns.
Boa afinação para sapateado, por isto mesmo a
preferida pelos catireiros, xibeiros, catereteiros e fandangueiros. Em
geral os violeiros genuínos dizem que é a mais positiva das afinações:
"é a que São Gonçalo ensinou", dizem os seus devotos. Outros, " a melhor
para se pisar nas cordas da viola", " não desaparece por mais ferrado
que seja o palmeado do cateretê."
A Cebolinha simples
é a afinação preferida pelos modinheiros. Fazendo uma pestana no
segundo trasto é "quatro paus" para sapateado, "declara bem no bate-pé".
Há outra cebolinha (pelas três cordas) também conhecida por "Ré Acima" ou "Cebolinha pelo meio",
apropriado para solar músicas. Nesta afinação, o pai da aviadora Anésia
Pinheiro Machado, o itapiningano Gustavo Pinheiro Machado, saudoso
virtuose da viola, tocava tudo: desde as modas de viola até Chopin,
desde os cateretês mais barulhentos até Brahms. Hoje, ainda os poucos
solistas que nós conhecemos, preferem-na às demais.
A afinação Cana Verde ou para Cururu é uma das mais simples (ré-sol-si-mi-lá) utilizada para a cantoria destas duas modalidades.
A afinação preferida
para o Fandango, pelo menos foi o que anotamos no litoral sul paulista, é
a oitavado, de Guitarra ou Ponteado do Paraná. Os paranaenses do
litoral norte, de Paranaguá e adjacências, quando vão em romaria à
Iguape, a 6 de agosto de todos os anos, costumam afinar suas violas
desta maneira (ré-sol-dó-fá-lá sustenido) Quem sabe vem daí chamarem-na
de Ponteado do Paraná. Usada também para ponteio e moda, não apenas para
a dança do Fandango, modalidade de dança que está desaparecendo, tanto o
fandango rufado ou batido, como o fandango valsado ou bailado.
Sossego ou castelhano é uma das posições pouco usadas, embora seja uma das mais fáceis para execução.
Quatro-pontos - Esta afinação é igual à do violão. Em geral, tocador de violão quando passa a tocar viola, afina-a nesta.
Em Ubatuba, encontramos duas afinações que a
princípio julgamos novidade: a de Reza e a de Contoria do Divino. Após
exame perfunctório verificamos que as duas nada mais são do que a
Quatro-Pontos do serra-acima, que no beira-mar assumiu denominação
diferente. Para a Cantoria do Divino a colocação dos dedos é do primeiro
ao terceiro trastos, já para a Reza é do quinto trasto ao oitavo.
As afinações variam de região para região
brasileira, assim é que existem as chamadas goiana, goianão, ponteado do
Paraná, etc. Em S. Paulo, onde os filhos de outras Estados têm vindo
para a obra de engrandecimento desta grande forja de trabalho, para os
cafezais ou pastoreio, têm recebido a influência dos demais filhos desta
grande Nação na sua arte popular e no que concerne à músico ou uso de
um instrumento como a viola, o fato é verificável, está ai para ser
pesquisado e estudado. Assim é que muitos nordestinos gostam de afinar
suas violas em: mi-si-sol-ré-lá. É claro que a inter-relação favorece a
influência e a adoção de novos padrões. No entanto, os paulistas
genuínos continuam a dar preferência ao Cebolão. É claro que as
referências também podem variar, por exemplo em Taubaté, para o Cateretê
a afinação é fá sustenido, si-mi sustenido - sol sustenido - dó
sustenido.
Diz o velho ditado: "em festa de jacu, inhambu não pia". É bom
que me cale por aqui, pois este assunto é para os musicólogos e não
para antropólogo que entrevistou 818 violeiros. Pontofinalizamos aqui o
nosso estudo sobre a Viola.
ALCEU MAYNARD ARAÚJO nasceu no dia 21 de
dezembro de 1913, na cidade de Piracicaba, SP. Formou-se professor em
1930 e veio para
São Paulo, ingressando no Curso Colegial e Científico do Colégio
Ipiranga. Em 1944 bacharelou-se na Escola de Sociologia e Política de
São Paulo, depois do que exerceu diversas funções e pertenceu a
diversas entidades. Foi membro do Instituto Histórico e Geográfico de
São Paulo e da Sociedade Brasileira de Folclore. Divulgou o Brasil
através de filmes de sua autoria, no programa da TV - PRF-3, "Veja o
Brasil".
Na área do Folclore publicou: Cururu (1948), Danças e ritos populares de
Taubaté (1948), Folia de Reis de Cunha (1949), Rondas infantis de
Cananéia (1952), Literatura de cordel (1955), Ciclo agrícola, calendário
religioso e magias ligadas às plantações (1957), Poranduba
paulista (1958), Folclore do mar (1958), Medicina rústica (1961), Novo
dicionário brasileiro - verbetes de folclore (1962), Folclore nacional
(1964), Pentateuco nordestino (1971), além de muitos ensaios e artigos
na imprensa brasileira e revistas especializadas. Falecido em 1974.
Caso você tenha chegado diretamente a este link, volte ao topo e clique em "Apresentação", para conhecer a vida e obra da maior dupla sertaneja do Brasil de todos os tempos, Tonico e Tinoco
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Viola caipira – Wikipédia, a enciclopédia livre
pt.wikipedia.org/wiki/Viola_caipiraIr para Lendas e histórias - [editar | editar código-fonte]. Existem diversas lendas e histórias acerca da tradição dos violeiros. Há diversas lendas e ...A História da Viola Caipira
www.ntelecom.com.br/users/pcastro4/viola.htmA Viola Cabocla. Este trabalho, de autoria do Professor Alceu Maynard de Araújo, foi publicado em artigos, na Revista Sertaneja de números 4, 5, 6, 7, 8, 9, ... A Origem da Viola Caipira
www.radioranchodatraira.com.br/index.../74-a-origem-da-viola-caipiraExistem várias denominações diferentes para Viola, utilizadas principalmente em cidades do interior: viola de pinho, viola caipira, viola sertaneja, viola de ...A história da viola caipira - Neto Stéfani
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www.clubeamigosdaviola.com.br/historiadaviola.phpHistória da Viola .... Nos séculos seguintes ela se transformou na viola caipira, que se tornou essencialmente rural com o advento do violão (c.1800), que pela ...história da viola | Blogmax - Mundomax
www.mundomax.com.br/blog/tag/historia-da-viola/02/03/2010 - A história desde então é muito obscura e cheia de lendas, afinal, nunca um instrumento musical foi tão envolto de folclore. A Viola Caipira se ...Aulas de Viola Caipira - Junior da Violla.com
www.juniordaviolla.com.br/historiadaviolacaipira.htmHistória da Viola Toda cultura em qualquer parte do mundo possui um ícone. Quando se fala em. Brasil, lembramos do Carnaval, quando se fala em Itália, ...Viola Sem Fronteira*: A história da *viola caipira
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Viola Caipira: Um pouco de sua história - arpeggio.com.br
www.arpeggio.com.br/.../viola%20caipira%20um%20pouco%20de%20s...Cursos de Guitarra, Violão e Viola. Viola Caipira. 1. VIOLA CAIPIRA: UM POUCO DE SUA HISTÓRIA. A viola caipira (ou viola brasileira, viola sertaneja, viola de ...
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A Origem da Viola Caipira
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T
em sua origem nas violas portuguesas, oriundas de instrumentos árabes como o alaúde.
As violas são descendentes diretas da guitarra latina que, por sua vez, tem uma origem arábico-persa.
As violas portuguesas chegaram ao Brasil trazidas por colonos portugueses de diversas regiões do país e passou a ser usada pelos jesuítas na catequese de indígenas. Mais tarde, os primeiros caboclos começaram a construir violas com madeiras toscas da terra. Era o início da viola caipira.
Tipos de Viola
Existem várias denominações diferentes para Viola, utilizadas principalmente em cidades do interior: viola de pinho, viola caipira, viola sertaneja, viola de arame, viola nordestina, viola cabocla, viola cantadeira, viola de dez cordas, viola chorosa, viola de queluz, viola serena, viola brasileira, entre outras.
Falar da viola caipira é falar de um dos símbolos mais fortes da cultura brasileira. A viola caipira é, sem sombra de dúvida, senão o mais importante, um dos mais populares instrumentos da cultura brasileira.
Marcus Biancardini
Simbolo NacionalA viola é o símbolo da original música sertaneja, conhecida popularmente como moda de viola ou música raiz.
No Brasil, é um instrumento tradicional. Músicas entoadas em suas cordas atravessaram décadas, gerações e, até hoje, estão presentes no nosso dia a dia, na cultura brasileira.
Em Minas Gerais, Paraná, São Paulo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, entre outros, a viola tem destaque, onde a tradição da moda de viola é passada de geração pra geração.
A viola é um instrumento com um potencial fora do normal. O músico e instrumentista já falecido Renato Andrade comprovou isso, nos estudos que fez, conseguindo imitar instrumentos como: Harpa de concerto, Harpa Paraguaia, Guitarra Portuguesa, Bandolim Napolitano, Balalaica Russa e, como ele sempre dizia, também "imitar a viola"!
Lendas e Histórias
Existem diversas lendas e histórias acerca da tradição dos violeiros e a respeito das afinações da viola.
O nome da afinação "Cebolão" seria do fato de as mulheres chorarem, emocionadas ao ouvirem a música, como quem corta cebola.
A afinação Rio Abaixo seria originada na lenda de que o Diabo costumava descer os rios tocando viola nessa afinação e, com ela, seduzia as moças e as carregava rio abaixo.
Do violeiro que utiliza esta afinação diz-se, eventualmente, que pode estar enfeitiçado ou ter feito pacto com o demônio. Acredita-se que a arte de tocar viola seja um dom de Deus, e quem não o recebeu ao nascer nunca será um violeiro de destaque. Porém, a lenda diz que mesmo a pessoa não contemplada com este dom pode adquirir habilidade de um bom violeiro. Uma das opções seria uma magia envolvendo uma cobra-coral venenosa, conhecida como simpatia da cobra-coral. Outro modo seria fazer rezas no túmulo de algum antigo violeiro, na sexta-feira da paixão. Há ainda a possibilidade do violeiro firmar um pacto com o Diabo para aprender a tocar viola.
O pesquisador Antônio Candido conta que na região da Serra do Caparaó, assim como em outras, o Diabo é considerado o maior violeiro de todos. Tal mito explica a quantidade de histórias, em todo o Brasil, de violeiros que teriam feito pacto com o Diabo para tocarem bem. Entretanto, o violeiro que faz este tipo de pacto não vai para o inferno, já que todos no "céu" querem violeiros por lá.
Uma característica típica dos violeiros do nordeste é o duelo de tocadores. Todo bom violeiro se auto-afirma o melhor da região e, se outro violeiro o contraria, o duelo está começado.
Em certas regiões, por tradição, as violas carregam pequenos chocalhos feitos do guizo da cascavel, pois, segundo a lenda, tem poder de proteção para a viola e para o violeiro.
Segundo contam os violeiros de antigamente, o poder do guizo chega a quebrar as cordas e até mesmo o instrumento do violeiro adversário.
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